Padrão de vida só se recupera em 5 anos

O brasileiro vai ter de esperar mais cinco anos para conseguir recuperar o padrão de vida que tinha antes da recessão. Com a crise prolongada, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, medida que serve de referência do nível de riqueza da população, só deve retornar ao patamar de 2013 entre 2021 e 2023.

A expectativa é que o PIB per capita alcance R$ 33,5 mil, em números deflacionados, em quatro ou cinco anos, superando o patamar de 2013, de R$ 33,4 mil, segundo a consultoria 4E.

A recessão fez com que os ganhos no período de forte crescimento do País regredissem. Como reflexo da perda de renda e alta do desemprego, o brasileiro freou o consumo, adiou planos e aprendeu a viver com menos.

O relojoeiro José Clemente da Silva, de 56 anos, sentiu que a crise havia se agravado quando os clientes mais fiéis da loja na região metropolitana do Recife passaram a procurá-lo para consertar aparelhos, em vez de comprar novos. “Acabei diminuindo o negócio. Troquei o ponto por uma banca em que só faço reparos de relógios e eletrônicos. Cada um se vira como pode.”

No período de vacas magras, a compra de equipamentos novos foi substituída pela manutenção de aparelhos antigos. Enquanto a comercialização da linha branca, de televisores e de eletroportáteis caiu entre 10% e 21% nos anos de crise, segundo a Eletros (associação do setor), os reparos de aparelhos eletroeletrônicos subiram quase 8%, de acordo com a Abrasa.

Para Bruno Lavieri, da 4E, um dos fatores que afetaram o desempenho do País foi a queda nos investimentos nos últimos anos e os aportes mal feitos antes da crise, em setores que nem existem mais. “O PIB potencial também sofreu com o baixo crescimento da População Economicamente Ativa (PEA).”

O advogado Bruno Porto, de 46 anos, lembra do dia em que contou para a filha de dez anos que ela teria de mudar para uma escola com uma mensalidade menor. “A gente dizia que era um sacrifício, mas que ela iria estudar mais perto da casa nova – menor que a antiga. Foram dois anos em que a nossa vida mudou por completo, perdi o emprego, vendemos um dos carros e fui fazer bicos. No começo do ano, consegui outro emprego, mas que pagava menos da metade do anterior. Foi difícil, mas a gente se acostuma com tudo.”

A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, concorda que ainda será um longo caminho até que o PIB per capita do Brasil recupere o patamar pré-crise. “Ainda assim, a atual inflexão da economia é emblemática e deverá causar impacto na eleição de 2018”, afirma.

“O Brasil precisa correr muito para não ficar para trás. A crise de 2015 e 2016 foi quase que exclusivamente nossa, diferentemente de 2008, quando a crise foi generalizada”, diz Lavieri.

Da Agência Estado