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Ciro se compromete a não disputar reeleição e a apresentar reformas nos primeiros seis meses de governo

O pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, se comprometeu, a não disputar a reeleição em 2026, caso chegue ao Palácio do Planalto, e afirmou que vai apresentar todas as reformas de seu governo nos seis primeiros meses de mandato. Segundo o ex-ministro, elas propostas serão entregues juntas ao Congresso Nacional, em um pacote só. A declaração foi dada em entrevista ao podcast “O Assunto”, da jornalista Renata Lo Prete.

Na sabatina, o pedetista também defendeu a implementação de uma renda mínima para combater a fome e chamou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de ‘picareta’ pelas declarações dadas sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips na Amazônia.

“[Vou] usar os seis primeiros meses para reformas. Vai ser uma reforma só, um pacote inteiro, onde vai estar ali tudo junto, uma reconstitucionalização do Brasil para acabar com essa barafunda institucional em que estamos navegando hoje. Supremo fazendo política, Congresso executando orçamento, Executivo sendo testa de ferro de ladrão. Isso vai matar o Brasil”, afirmou Ciro.

Entre as principais propostas do pedetista, promete reformas tributária, trabalhistas, agrária e do teto de gastos. Para poder aprovar as iniciativas, Ciro afirma que vai abrir mão da reeleição, o que, segundo ele, facilitaria a relação com os parlamentares já que não seria afetada por possíveis conflitos eleitorais.

“Primeiro gesto: abro mão da minha reeleição em troca da reforma do país”, disse Ciro, que completou: “Não quero pleitear um mandato maior nem coisa nenhuma”.

Uma das principais propostas do pedetista, segundo afirmou na entrevista, é a renda mínima à população para combater a fome no país. Cerca de 33 milhões de brasileiro passam fome no país, segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.

Ciro criticou o país ser um grande produtor de alimentos, mas ter uma parcela relevante da população em situação de insegura alimentar. Além da renda mínima universal, o pedetista também quer comprar dos produtores e guardar estoques reguladores.

“Nos somos o maior produtor de alimentos do planeta Terra, portanto aqui tem comida”, disse Ciro, e ponderou: “O problema brasileiro é que nós destruímos uma estrutura que o Brasil exemplarmente já teve e que o mundo inteiro tem, que é uma estrutura de abastecimento e preços. No Brasil, era Conab, Cibrazem, Cobal, que eram estruturas que faziam o óbvio: chegou na safra, o governo entra comprando para proteger o produtor com a política de preços mínimos, porque ele não tem dinheiro para pagar o banco, o agiota, não tem onde guardar, onde processar”.

Ciro completou:

“O Brasil poderia fazer isso de forma exemplar para o mundo, guardar estoques reguladores. Veio a seca, veio a entressafra, veio um choque de preços de demanda internacional, em vez de aumentar a taxa de juros, que não tem efeito nenhum para isso, a gente desova os estoques reguladores a partir de programas de segurança alimentar, em que, lá na ponta, você vai ter que ter um cadastrão e a renda mínima”.

Desaparecimento na Amazônia
Ciro também criticou a postura do Bolsonaro ao tratar do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips na Amazônia. O pedetista chamou o presidente de “picareta” por ter culpado os dois, ao afirmar, na semana passada, que os dois teriam ido para uma “aventura”.

Pereira e Phillips estão desaparecidos desde a manhã do dia 5 de junho na Terra Indígena Vale Javari, no Amazonas. Ciro afirmou que a região é alvo do narcotráfico e que as Forças Armadas estão de “olhos fechados” para a situação da floresta tropical.

“Esse Bolsonaro é um grande picareta. Em relação a esses dois crimes, a essas duas vítimas do crime, o Bolsonaro os inculpou. Os inculpou. Repare, ali na região é pesca, é mineração, mas sabe quem está tomando conta? General Heleno [ministro do GSI], eu estou sabendo o que está acontecendo. Eu estou sabendo o que está acontecendo: é o narcotráfico, com o olho fechado das Forças Armadas brasileiras”, disse.

Ciro também afirmou que, se for eleito, vai proibir militares da ativa de assumirem cargos no Executivo federal. Segundo o ex-ministro, apenas integrantes da reserva poderão ser indicados a postos no governo.

“No meu governo, primeiro dia, está proibido militar participar de cargo político. É um cidadão como qualquer outro, mas deixe de ser militar e venha. Pode baixar para a reserva. Na ativa, você estar em cargo político. É um negócio de doido. Estão transformando o Brasil em república de bananas”, disse Ciro.

Durante a sabatina, Lo Prete relembrou que, durante a campanha eleitoral de 2018, quando Ciro também disputou o Palácio do Planalto, o pedetista já havia afirmado que militares não deveriam opinar sobre política. Em outra ocasião, Ciro já havia dito que acredita que os membros da Forças Armadas poderiam moderar o presidente Jair Bolsonaro (PL). Agora, o ex-ministro diz que estava enganado quanto a essa possibilidade.

“Os bons militares, de quem eu imaginava que pudesse sair uma moderação, foram embora. Mas os que ficaram lá têm essa duplicidade de corrupção. O Bolsonaro deu uma ordem ilegal e mandou o comandante do Exército comprar toneladas de cloroquina, que vão ser jogadas no lixo. E eu fui olhar, o contrato foi super faturado escandalosamente com a assinatura do comandante do Exército”, afirmou, fazendo menção à compra do medicamento que não tem eficácia no combate ao vírus.

O pré-candidato também falou qual deve ser o papel das Forças Armadas no processo eleitoral. A instituição vem entrando em atrito com o Superior Tribunal Eleitoral (TSE), ao reproduzir a tese de Bolsonaro de que as urnas eletrônicas não seriam seguras, o que jamais foi comprovado.

O presidente Bolsonaro tem sugerido que a Força Aéreo poderia atuar em caso de uma eventual fraude no pleito deste ano — embora não haja nenhum caso de irregularidade comprovada nas mais de duas décadas após a implementação das urnas eletrônicas brasileiras.

Ciro afirmou que o único papel das Forças Armadas é garantir a segurança da votação e das urnas.

“Como sempre fizeram, sob ordem da Justiça, em determinados lugares, se se incrementa muito a tensão, chama [as Forças Armadas]. E eles são o fator de ordem para que a eleição ocorra com tranquilidade”, disse Ciro, que completou: “Chamar o Exército para dar opinião sobre o processo eleitoral, isso não tem nada a ver com as Forças Armadas. Isso é coisa de república de banana”.

O Globo