Brasil chega a 50 mil vidas perdidas pela covid-19 e sofrimento está longe do fim

A covid-19 matou no Brasil, em três meses, mais do que outras doenças, catástrofes naturais, tragédias e mazelas urbanas, como a violência – problema endêmico no País. Com 50.058 vítimas fatais até este sábado (20) e com a transmissão do novo coronavírus em crescimento acelerado, a pandemia se consolida como uma das piores crises sanitárias da história.

O jornal O Estado de São Paulo reuniu dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, de 1996 a 2020, e de catástrofes da humanidade, como guerras, atentados, tempestades, enchentes e outras pandemias e epidemias, para comparar o tamanho da atual tragédia sanitária. 

O rastro de letalidade da covid-19 supera o deixado por armas de fogo, por acidentes (de trânsito, aéreos e marítimos), por doenças que protagonizaram epidemias recentes na história, como aids e dengue, e até mesmo por enfartes do coração – que integram o grupo de doenças que mais causam mortes no Brasil, as relacionadas ao sistema circulatório, como derrames, AVCs, hipertensão arterial, entre outras.

“E ainda não chegamos nem na metade da covid-19”, afirma o virologista Maulori Curié Cabral. Professor do Departamento de Virologia, do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele afirma que é cedo para um prognóstico de comparações. “Ainda estamos no começo da doença, em uma fase de curva achatada, em que não se sabe quando e como vai acabar. Depois que terminar é que poderemos ver o total de mortes e comparar.”

Passados 95 dias desde então, a covid-19 vitimou 50.058 pessoas no Brasil. É mais do que o total de mortes por por algum tipo de isquemia no coração, que incluem enfartes, registradas entre janeiro e maio de 2019: 46,5 mil, segundo dados do Ministério da Saúde.

Covid-19 mata mais que violência, trânsito e tragédias

A violência é um dos problemas sociais que mais preocupam a população, não só pela agressão, mas pelos riscos e imprevisibilidade que envolve. A covid-19 matou nesses 90 dias mais do que as armas de fogo mataram em 2017 inteiro, ano em que houve maior número de ocorrências do tipo nas últimas três décadas: 48,4 mil óbitos (inclui assassinatos e suicídios).

Comparado às mortes decorrentes de acidentes de trânsito, aéreos e navais (30 mil, em 2019), a covid-19 matou quase o dobro. Tantos as mortes por armas quanto os acidentes são classificadas como óbitos motivados por “causas externas” no registro de letalidade no Brasil do Ministério da Saúde. Isto é, não provocadas por doenças.

As causas externas formam o quarto grupo com mais óbitos do País: 140 mil em 2019. Entram na classificação violência policial, agressões, conflitos, explosões, mortes em hospitais por complicações, entre outras. Entre março e junho do ano passado – período aproximado de tempo da epidemia no Brasil –, os óbitos desse grupo somaram 46 mil. Menos do que a covid-19 no mesmo período.

No Brasil, se somarmos os mortos de 17 tragédias recentes, não chegaríamos nem perto do que a covid-19 matou. Juntas, elas vitimaram 3.537 pessoas. A conta reúne os mortos soterrados com os rompimentos de barragens em Brumadinho (2019) e Mariana (2015); os de quatro acidentes aéreos – dois da TAM em Congonhas (1996 e 2007), da Gol (na Serra do Cachimbo, em 2006) e do time da Chapecoense (na Colômbia, em 2016); os de três deslizamentos e das enchentes, no Rio (2011), em Caraguatatuba (1967) e Santa Catarina (2008); os com os desabamentos, incêndios e explosões dos edifícios Joelma (1974) e Andraus (1972), da Boate Kiss (2014), do Gran Circus (1961), da Vila Socó, em Cubatão (1984) e do Plaza Shopping (1996); do naufrágio do Bateau Mouche (1989) e no massacre do Carandiru (1992).

No mundo, covid-19 matou o equivalente à população de Santos

A covid-19 matou mais de 462 mil pessoas no planeta. São 8,7 milhões de contaminados pelo coronavírus. O Brasil é o segundo País com mais vítimas fatais, perde apenas para os EUA, segundo mostra o monitor global da doença feito pela Universidade Johns Hopkins.

Com a primeira morte registrada na China, em janeiro, o total de pessoas que morreram até agora é equivalente à população de grandes cidades brasileiras. Seria o mesmo que dizer que uma Santos, no litoral sul de São Paulo, sumiu do mapa, ou uma Campina Grande (PB), uma Betim (MG), uma Maringa (PR), todas cidades na faixa dos 400 mil moradores. Segundo o IBGE, 42 cidades do Brasil têm mais de 500 mil habitantes.

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