
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, leu um manifesto na manhã desta quinta-feira (9) rebatendo declarações do presidente Jair Bolsonaro e apontando o chefe do Executivo como responsável pela tentativa de desinformação no país que, para ele, é uma das maiores ameaças à democracia. Além disso, Barroso disse que o Brasil tem sido motivo de chacota mundial.
Em discurso inflamado, Barroso criticou o que chamou de populismo, fazendo a comparação da situação do Brasil à de outros países em que a democracia é fragilizada e há uma escalada do autoritarismo e populismo. Para Barroso, os ataques às instituições realizados pelo presidente da República têm o foco de “esconder o seu fiasco”.
“Quando o fracasso bate à porta, porque esse é o destino do populismo, é preciso encontrar culpados. O populismo vive de arrumar inimigos para justificar o seu fiasco. Pode ser o comunismo, a imprensa ou os tribunais”, disparou Barroso.
O presidente do TSE reformou citação bíblica usada por Bolsonaro, que diz “conhecerás a verdade, e a verdade vos libertará”. Para Barroso, o atual momento demonstra que o objetivo é exatamente o contrário. “Conhecerás a mentira, e a mentira te aprisionará”.
Respostas
Respondendo a seis acusações do presidente, reproduzindo as declarações do presidente “usando o vocabulário e sintaxe que (Bolsonaro) é capaz de manejar”, Barroso disse que as eleições são seguras e que o presidente da República não foi capaz de provar nenhuma das acusações sobre possíveis fraudes. Segundo Barroso, a maior parcela da população sabe quem é o farsante.
“Só os fanáticos, que são cegos pelo radicalismo, e os mercenários, que são cegos pela monetização da mentira, todas as pessoas sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história”, disse Barroso.
Para o presidente do TSE, “estratégias do autoritarismo são criar ambientes de mentiras, quando pessoas divergem quanto aos próprios fatos, pós-verdade e fatos alternativos são coisas que ingressaram no dicionário contemporâneo”. O ministro, inclusive, falou que Bolsonaro não tem coragem de atacar o Congresso Nacional quando o voto impresso foi derrubado (de maneira acertada, segundo ele), mas foca no Judiciário.
“O sistema é certamente inseguro para quem acha que o único resultado justo é a própria vitória. Contagem pública manual de votos? É como abandonar o computador e regredir não à máquina de escrever, mas à caneta tinteiro! Seria retorno ao tempo da fraude e manipulação. Se tentam invadir congresso e STF, imagine o que não fariam com as seções eleitorais”, disse Barroso, afirmando que o presidente fez campanha de três anos “incendiosa” contra a urna eletrônica, o que fez com que “uma minoria passou a ter dúvidas sobre a segurança do processo eleitoral”. “Dúvida criada artificialmente por uma máquina governamental de propaganda. Assim que pararem de circular as mentiras, as dúvidas se dissiparão”, disse.
O ministro do TSE também afirmou que o Brasil tem sido alvo de chacota mundial devido à postura do presidente da República.
“Insulto não é argumento, ofensa não é coragem, incivilidade é derrota do espírito. A falta de compostura nos envergonha perante o mundo. A marca Brasil sofre, nesse momento, desvalorização global. Não é só o Real. Somos vítimas de chacota e desprezo mundial.
Desprestígio maior que a inflação, desemprego, que a queda da bolsa, que o desmatamento da Amazônia, que as mortes na pandemia, que a fuga de cérebros e investimentos, que o preço da gasolina. A falta de compostura nos dimunui perante nós mesmos. Não podemos permitir destruição das instituições para encobrir fracasso econômico, social e moral que vivemos”, disse Barroso.
“A democracia só não tem lugar para quem pretenda destruí-la. Um presidente eleito democraticamente pelo voto popular tomará posse em 1 de janeiro de 2023. Assim será”, disse o presidente do TSE.
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